A estrutura do texto jornalístico
Alfredina Nery *
Se a narração é o gênero de redação em que uma história é contada (seja uma fábula ou uma crônica), com o uso de recursos como flashbacks, suspense, narrador em primeira ou terceira pessoa, etc., a notícia é o relato do fato, com texto, geralmente, mais simples, seco. Você vai entendar como funciona.
Você acredita que a notícia que ouvimos no rádio, assistimos na TV, lemos no jornal impresso ou na Internet é um fato em si ou é uma interpretação de um fato? Para responder isso, observe por alguns segundos a figura reproduzida acima. O que você vê? Uma vaca? Se você respondeu que sim, a sua resposta estava quase certa. Não se trata de uma vaca, mas de uma representação de uma vaca, não é? Com a linguagem escrita acontece a mesma coisa: ela representa algo, como objetos, valores, ideias. Logo, a notícia não é o fato em si, mas sim uma interpretação desse fato, certo?
Se a narração é o gênero de redação em que uma história é contada (seja uma fábula ou uma crônica), com o uso de recursos como flashbacks, suspense, narrador em primeira ou terceira pessoa, etc., a notícia é o relato do fato, com texto, geralmente, mais simples, seco. Você vai entendar como funciona.
Você acredita que a notícia que ouvimos no rádio, assistimos na TV, lemos no jornal impresso ou na Internet é um fato em si ou é uma interpretação de um fato? Para responder isso, observe por alguns segundos a figura reproduzida acima. O que você vê? Uma vaca? Se você respondeu que sim, a sua resposta estava quase certa. Não se trata de uma vaca, mas de uma representação de uma vaca, não é? Com a linguagem escrita acontece a mesma coisa: ela representa algo, como objetos, valores, ideias. Logo, a notícia não é o fato em si, mas sim uma interpretação desse fato, certo?
Analise a pequena notícia a seguir.
Na notícia do jornal "Ipiranga News", os dados do lide são:
quem: os moradores da Vila São José;
onde: na Vila São José, Bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo;
o quê: moradores assustados com a quantidade de escorpiões na região.
O segundo parágrafo "expande a notícia", isto é, dá mais detalhes a respeito do fato:
os moradores estão indignados com a Vigilância Sanitária da SubPrefeitura, que sugere que eles criem galinhas, como forma de resolver o problema da proliferação dos escorpiões;
os moradores têm uma explicação para o aumento dos escorpiões: uma casa abandonada.
Outra característica da linguagem jornalística é sua tentativa de mostrar imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Veja que o jornalista do "Ipiranga News" pretende se mostrar imparcial, apresentando distanciamento do fato. Essa aparência de imparcialidade é conseguida por:
ausência de enunciados de opinião. Há fatos, acontecidos com outros e que não têm nada a ver com o jornal, como em "Os moradores também se indignaram...";
privilégio do uso de terceira pessoa ("os moradores", "eles");
não uso de adjetivos que possam dar impressão de subjetividade, de interferência da opinião do jornalista. Não se admite, por exemplo, uma notícia que fale em um homem velho, em prédio alto, bairro distante. Para dar impressão de que os fatos são relatados com a maior precisão possível uma notícia informa, por exemplo: homem branco, 85 anos; prédio de doze andares; bairro da periferia da cidade de São Paulo etc.;
a busca de exatidão faz com que se privilegiem os verbos no modo indicativo: "estão assustados", "têm sido encontrados", "se indignaram", "aconselham", "acreditam", "tenha começado", "havia".
(Manuel Bandeira. "Poesia completa e prosa". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983)
Pode-se perceber que o poema dialoga com a notícia e que o fato - a morte de uma pessoa - poderia mesmo ser uma notícia de jornal. Mas o que Manuel Bandeira escreve não é uma notícia, mas um poema em que mostra uma contradição da vida brasileira: ficar famoso, para alguns, acontece somente quando isso é tragédia...
Agora, voltemos à história do escorpião.
Veja que, embora o assunto seja o mesmo da notícia extraída do "Ipiranga News", não se pode considerar o texto acima uma notícia. A organização textual, por exemplo, é muito diferente de uma notícia. Vejamos algumas diferenças.
Em uma notícia, os eventos não são ordenados por sua sequência temporal como em uma história, ou seja, o jornalista não tem a pretensão de relatar os fatos na ordem em que, supõe-se, ocorreram. Os eventos são apresentados pelo interesse, na perspectiva de quem conta e, principalmente, pelo que o leitor/ouvinte/telespectador/internauta pode considerar mais importante. É evidente que quem informa faz uma seleção prévia dos eventos a serem destacados, relatando-os em função do evento principal e da ideologia do jornal.
(Nilson Lage. "A estrutura da notícia". São Paulo: Ática, 1993) :
Por mais que informe ser imparcial, ou que afirme traduzir com exatidão a veracidade dos fatos, a imparcialidade absoluta numa notícia é impossível, pois o redator tem que escolher o que vai contar - que acontecimentos, dentre outros, pode se transformar em uma notícia que venda mais. Determinado "o quê", ainda há "o como", isto é, como atingir o leitor de maneira mais direta, o que implica uma determinada seleção de vocabulário, destaque para o tipo de letra, tamanho da notícia, lugar em que a notícia vai aparecer no jornal, abordagem etc... :
É necessário compreender que o jornalismo não retrata nem cria fatos, e sim constrói visões dos fatos. O jornal legitima uma opinião sobre os fatos, a depender de sua linha editorial, dos leitores que quer atingir. Nesse quadro, a notícia é uma construção de visões e não os fatos em si.
Escorpiões assustam Vila São José
Os moradores da Vila São José, no Ipiranga, estão assustados com o grande número de escorpiões que têm sido encontrados na região. Eles também se indignaram com a sugestão de um técnico da Vigilância de Saúde da Subprefeitura do Ipiranga que aconselhou a população a espalhar galinhas pelas ruas para resolver o problema. Os moradores acreditam que a proliferação tenha começado em um terreno onde havia uma casa abandonada.
(“Ipiranga News” - 28/10 a 3/11/2004) |
Assunto
Pelo assunto e pelo nome do veículo de imprensa, percebe-se que se trata de um jornal de bairro, destinado a uma comunidade particular de leitores - os moradores do Ipiranga, bairro da cidade de São Paulo.A estrutura da notícia
Veja que a notícia se estruturou em apenas dois parágrafos. O primeiro - chamado de "lide" - sintetiza os dados principais: quem, onde, o quê. Se o leitor ler apenas esse parágrafo, já fica sabendo se quer ou se precisa continuar a ler a notícia. A leitura de um jornal é seletiva, isto é, o leitor escolhe o que quer ler, por isso, não precisa ler tudo que está escrito no jornal para se informar. É bem diferente da leitura de outros gêneros como, por exemplo, um conto, um romance, cuja leitura integral é obrigatória para sua compreensão.Na notícia do jornal "Ipiranga News", os dados do lide são:
O segundo parágrafo "expande a notícia", isto é, dá mais detalhes a respeito do fato:
Linguagem coloquial
A linguagem do jornal é, preferencialmente, coloquial (próxima à maneira como falamos). Isso acontece intencionalmente, como forma de se aproximar e se adequar ao leitor, ao buscar uma comunicação mais eficiente.Outra característica da linguagem jornalística é sua tentativa de mostrar imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Veja que o jornalista do "Ipiranga News" pretende se mostrar imparcial, apresentando distanciamento do fato. Essa aparência de imparcialidade é conseguida por:
O que é notícia?
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. |
(Manuel Bandeira. "Poesia completa e prosa". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983)
Pode-se perceber que o poema dialoga com a notícia e que o fato - a morte de uma pessoa - poderia mesmo ser uma notícia de jornal. Mas o que Manuel Bandeira escreve não é uma notícia, mas um poema em que mostra uma contradição da vida brasileira: ficar famoso, para alguns, acontece somente quando isso é tragédia...
Agora, voltemos à história do escorpião.
Perigo à vista
Na bonita manhã de sol da segunda-feira, seu Joaquim, morador mais antigo da rua Jurupá, foi comprar pão na padaria. Encontrou-se com Dona Maria que também estava saindo para o trabalho e foram conversando sobre os preços absurdos de tudo, nos dias atuais. No caminho encontraram dois escorpiões, perto da casa abandonada, cujo dono havia morrido há muito tempo e, porque o inventário nunca acabava, ninguém conseguia vender ou alugar o imóvel. Esse fato foi motivo para mais conversa sobre ‘o fim dos tempos’ da vida moderna.
Dona Nenê, vizinha de seu Joaquim, quando lavava roupa, num certo dia, também encontrou escorpiões em seu quintal. Foi um alvoroço só… Mas o problema maior foi quando um escorpião picou uma das filhas do seu Agenor. Ele, indignado, na volta do hospital, chamou a Vigilância Sanitária. Os técnicos sugeriram que uma boa forma de acabar com os escorpiões era criar galinhas. Que fazer?
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Veja que, embora o assunto seja o mesmo da notícia extraída do "Ipiranga News", não se pode considerar o texto acima uma notícia. A organização textual, por exemplo, é muito diferente de uma notícia. Vejamos algumas diferenças.
Seqüência do texto
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Linguagem
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Escorpiões assustam Vila São José | Do fato mais importante para os detalhes | Objetiva Procurando ser neutra |
Perigo à vista | Seqüência temporal da narrativa, cujo acontecimento principal está diluído no texto | Detalhada na construção das personagens e do cenário. Cada elemento ajuda a compor o enredo. |
Em uma notícia, os eventos não são ordenados por sua sequência temporal como em uma história, ou seja, o jornalista não tem a pretensão de relatar os fatos na ordem em que, supõe-se, ocorreram. Os eventos são apresentados pelo interesse, na perspectiva de quem conta e, principalmente, pelo que o leitor/ouvinte/telespectador/internauta pode considerar mais importante. É evidente que quem informa faz uma seleção prévia dos eventos a serem destacados, relatando-os em função do evento principal e da ideologia do jornal.
Conceito de notícia
Leia o que diz um especialista no assunto:
Notícia: relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante. A estrutura da notícia é lógica; o critério de importância e interesse envolvido em sua produção é ideológico: atende a fatores psicológicos, comportamentos de mercado, oportunidades, etc..
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(Nilson Lage. "A estrutura da notícia". São Paulo: Ática, 1993) :
Por mais que informe ser imparcial, ou que afirme traduzir com exatidão a veracidade dos fatos, a imparcialidade absoluta numa notícia é impossível, pois o redator tem que escolher o que vai contar - que acontecimentos, dentre outros, pode se transformar em uma notícia que venda mais. Determinado "o quê", ainda há "o como", isto é, como atingir o leitor de maneira mais direta, o que implica uma determinada seleção de vocabulário, destaque para o tipo de letra, tamanho da notícia, lugar em que a notícia vai aparecer no jornal, abordagem etc... :
É necessário compreender que o jornalismo não retrata nem cria fatos, e sim constrói visões dos fatos. O jornal legitima uma opinião sobre os fatos, a depender de sua linha editorial, dos leitores que quer atingir. Nesse quadro, a notícia é uma construção de visões e não os fatos em si.
* Alfredina Nery é professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.
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